domingo, 26 de abril de 2015

Blackout

     Era noite, mais uma vez, e Sophia fazia uma de suas caminhadas pelas ruas mal calçadas do seu bairro. Diferentemente delas - as quais, à medida que a escuridão as tomava, eram preenchidas pelas luzes dos postes, que acendiam uma a uma - seu interior era tomado pela cegueira subsequente ao apagar de suas esperanças. 
     Caminhava com pesar, como se o coração lhe fosse uma pedra de mármore que afetasse até seu equilíbrio. Sophia preferia um infarto, decerto, tamanha agonia que essa sensação lhe causava. "É esse o preço que pago por não ser tola?", pensava. Num mundo onde a maioria escolhe o ordinário, o superficial, haveria espaço para alguém que pensa e sente além?
     Enquanto se arrastava até sua casa, também se questionava se ela não seria, afinal, a única tola da história. Pois eram o seus sentimentos que estavam destroçados. Os ordinários, os mesmos que ela julgou estarem desperdiçando suas vidas, sorriam todos os risos que a dor lhe roubou. A dor causada por essas mesmas pessoas. Se somos quem somos porque existe o outro para lhe afirmar isso, entende-se que as relações que estabelecemos são essenciais para a nossa existência. Mas era isso: para quê ter tanto a oferecer, se suas relações mais próximas não a tocavam da mesma forma? Pelo menos não de forma que não fosse mais destrutiva do que construtiva. E era duro ter que reerguer-se sozinha.
     Chegou em casa, finalmente. Entrou em seu quarto, fechou a porta, deitou na cama. Desejou, com toda a força que ainda lhe restava, que conseguisse fazer uma reflexão positiva à respeito. Não conseguiu. Nem mesmo as palavras a confortaram dessa vez. A vida é mais do que apenas existência. Mas se naquele momento ela apenas existisse, a dor estaria camuflada e ela poderia acender-se, ainda que artificialmente. Mas não.
     Apagou-se de vez.

domingo, 22 de junho de 2014

Dialogando com a vida



Certa vez estava eu a pensar nos percalços da vida, mediante as frustrações vividas naquele determinado momento. Tudo o que eu pensava era que daria tudo para ficar frente a frente com a vida, caso ela se personificasse. A raiva – que por muitas vezes cega – deu luz a uma ideia não muito convencional. Pensei comigo: se dizem que a morte se personifica, por que não a vida?
Sabem aqueles jogos de invocar almas, demônios e a desgraça toda? Dei um Google it e pesquisei como eu poderia invocar a vida em sua personificação. Uma hora depois, meu quarto mais parecia uma missa de 7º dia de tantas velas espalhadas pelo chão. Uns passos não muito sincronizados, algumas palavras ditas em alto e bom som e a minha expectativa. Tentei fazer o tal ritual da melhor forma possível. Nada. Repeti meus movimentos, tentei uma, duas, três vezes... Nada. Mudei algumas palavras e tudo continuou da mesma forma. Sentei-me, ainda em frustração, e gritei “Sabe, a morte é mais eficaz!”. *PUFF*
Uma figura surgiu e me encarou com uma expressão tão descontente quanto a minha. Tinha não mais que 1,60m e, embora eu pudesse ver sua irritação através de suas sobrancelhas escuras que se apertavam e deixavam aparecer uma ligeira ruga entre elas, não conseguia distinguir seu rosto e dizer com quem (ou com o quê) se parecia. Talvez pelo meu espanto e por todas as perguntas que rondavam a minha cabeça naquele momento, não consegui falar. Então foi ela que se manifestou primeiro:
- Você de novo... Não sei por que ainda me surpreendo.
A frase me despertou daquele transe e imediatamente a indignação me tomou:
- Eu?! Como se a culpa de tanta coisa ruim que anda acontecendo fosse minha... Você é quem sempre brinca de piorar as coisas! Quando tudo está bem, você brinca comigo como se eu fosse marionete em suas mãos!
A Vida então se sentou em minha cama e eu podia ver sua expressão quase entediada diante da minha frase. Eu ainda não conseguia ver seu rosto, mas podia ver cada sentimento expresso nele. Ou talvez eu apenas sentisse. Ela se voltou para mim outra vez:
- Suas reclamações não são as únicas. Eu ouço muitas coisas todos os dias, não só de você. Mas há algo especial entre nós. Então estou aqui disposta a ouvir suas queixas.
- E o que tem de tão especial entre nós? – perguntei, mas não queria demonstrar tanto interesse quanto eu realmente tinha.
- Você logo saberá.
Aquele mistério me incomodava, confesso. Como não sabia quando teria outra oportunidade daquelas, tratei de começar a enumerar as minhas insatisfações causadas por tal criatura que se encontrava a minha frente.
- Pra começo de conversa: qual é o seu problema? Você se incomoda com a felicidade das pessoas? Aliás, não é isso. Se fosse, não teriam pessoas felizes e, por sinal, pessoas que não merecem. Você adora inverter as coisas. – disse as últimas palavras com um belo toque de sarcasmo.
- A felicidade é exclusividade então?
“Filha da puta”, eu pensei.
- Não, só acho que muitas pessoas lutam para alcançar a felicidade e dão com a cara na parede, enquanto outras conseguem isso sem fazer esforço algum. – respondi com uma raiva presa por toda uma vida, até aquele momento.
- Está bem. Prossiga em suas acusações.
- Não são acusações! São fatos! Se não fossem, você mesma não teria dito que as minhas reclamações não são as únicas. Acho que alguém não está fazendo o seu trabalho direito aqui...
De repente, todo o cenário mudou. Não estava mais em meu quarto e uma melodia se instalou tão alta que ecoava em cada canto da minha cabeça. Era agradável, envolvente, conhecida... Piaf. Edith Piaf ~padam padam~.
Esta melodia que me deixa obcecada dia e noite
Esta melodia não nasceu hoje
Vem de tão longe quanto eu venho
Arrastada por cem mil músicos.
Um dia essa melodia me deixará louca
Já quis dizer cem vezes por que,
Mas ela me cortou a palavra
Ela sempre fala na minha frente
E sua voz cobre a minha voz
Padam... Padam... Padam...
Ela chega correndo atrás de mim
Padam... Padam... Padam...
E me apanha com aquele “você se lembra?”
Padam... Padam... Padam...

- Se me lembro? – falei como se tivessem acabado de acertar uma paulada na minha cabeça. Tudo estava confuso e, de alguma maneira, eu sabia bem o que aqueles versos em francês significavam, embora meu conhecimento sobre a língua se limitassem a algumas palavras que eu havia aprendido com a tradução de músicas.
- Sim. Você se lembra?
Eu não entendia a pergunta. Não sabia onde estava. Apertei meus olhos por trás dos meus óculos de armação grossa e girei meu corpo para observar todo o lugar. A Vida havia sumido e a cena foi se clareando. Agora eu podia me ver conversando com uma amiga, como em um dia que eu já havia vivido. Eu reclamava de algumas coisas passadas, as quais me impediam de prosseguir em minha caminhada sei lá em direção aonde. Pude ver mais de perto que, naquele momento, meu único impedimento eram as minhas escolhas.
- Está bem, já entendi a charada. – eu falei.
Vertigem, mudança de cena, ligeira confusão mental. A música voltou a tocar e eu me senti da mesma forma que havia me sentido há alguns instantes.
É uma melodia que me aponta o dedo
E arrasto atrás de mim
Como um estranho erro
Esta melodia que sabe tudo de cor.
Ela diz: “Lembra-te de teus amores.
Lembra-te que é tua vez.
Não há razão para que não chores
Com suas lembranças nos braços”
E eu revejo as que restam
Meus vinte anos falam alto
Vejo os gestos que se debatem
Toda a comédia dos amores
Nessa melodia que prossegue sempre
Padam... Padam... Padam...
Os “eu te amo” de 14 de julho
Padam... Padam... Padam...
Os “sempre” que se compram com desconto
Padam... Padam... Padam...
Os “se quiseres” aos montões
E, tudo isso, para dar bem na esquina
Com a melodia que me reconheceu.

Nesse momento, eu estava em outra local e, novamente, me via. A Vida, por sua vez, não se fazia presente. Ali eu podia ver que eu estava relendo cartas e algumas conversas. Nem todas eram motivos para riso, mas guardavam boas recordações, apesar de tudo. Promessas do que parecia ser certo e para todo o sempre; fragmentos de palavras que me fizeram sorrir tantas vezes e que me devastaram logo depois; gente que parecia reflexo da minha alma e que se tornou só alguém que eu costumava conhecer. Eu relia e sorria, até mesmo da dor que senti e que me tornou mais forte. Foi através das experiências falhas e dolorosas do meu coração que pude juntar meus cacos e me refazer. Sem cola. Renasci. E nada mais me quebraria daquela forma. Mais uma vez eu entendi o recado da Vida. Ela notou e falou, já ao meu lado:
- Imagine que chato seria se todo mundo encontrasse a tal ‘pessoa certa’ logo de cara...
Tive que concordar. Quem nunca esteve no fundo do poço não pode experienciar o topo da mesma maneira. Então a parte final da música...
Escutem a balbúrdia que ela me faz,
Como se todo o meu passado desfilasse.
É preciso guardar um pouco de tristeza para depois
Tenho todo um solfejo desta melodia que bate...
Que bate como um coração de madeira.

- Antes ter um coração de carne do que de madeira. Ouço todas as suas reclamações, lhe acompanho todos os dias, nunca deixo de lhe escutar ou me preocupar com você. É mais forte do que pensa. Cada pedra que aparece em seu caminho e que julga ser eu a culpada de colocá-la lá faz com que se torne capaz de enfrentar e resolver problemas, assim como é capaz de ajudar outras pessoas. Você reclama, mas você gosta. Os desafios lhe atraem de maneira irresistível e sua fé em si faz com que possa alcançar seus objetivos e viver de maneira intensa.
Estávamos lado a lado, eu e a Vida. Olhando para frente, para o horizonte. Lembrei do ritual para invocar a Vida e me perguntei se a Morte seria capaz de me levar a tantos lugares e de maneira mais legal também. Sorri e me senti um adolescente rodeado de amigos e brincando de falar com mortos naquela brincadeira do compasso, enquanto o objeto gira e aponta letras e números. Olhei para o lado e aquele rosto, antes impossível de se identificar, estava tomando forma. Então ele me encarou. Aquelas sobrancelhas escuras – que mais pareciam ter sido pintadas de tão pretas – se conectavam com olhos também escuros – não tanto quanto elas – e que se assemelhavam a jabuticabas que se escondiam por trás de lentes... Lentes de óculos de armação grossa e preta, com hastes vermelhas, igual a minha. Espera... Bochechas grandes, queixo redondo e um sorriso que logo apareceu e que eu podia jurar ser daqueles cheios de ironia e que eu sempre costumava dar. Era eu, o tempo todo era eu.
- Bu! – a Vida (eu) disse, como que a me zombar.
*PUFF*
Dessa vez esse não foi o som da Vida aparecendo. Nem mesmo dela sumindo. Foi o som do meu corpo contra a minha cama, como se tivessem me jogado do telhado da minha casa diretamente nela. Meu coração estava descompassado e meus olhos doeram quando tentei abri-los de uma vez. A luz do meu quarto estava acesa, então tentei fazer isso aos poucos, enquanto me dava conta de outras coisas à minha volta. Como, por exemplo, na música que estava tocando. Era a mesma do sonho (sonho?), Edith Piaf – Padam Padam. Peguei meus óculos – que mais me faziam sentir o Clark Kent – e continuei observando tudo. Não havia vestígio de velas em meu quarto, apenas meu notebook ligado diretamente na tomada e o Media Player com o modo de repetição ativado. Eram 4:30 da manhã e também pude notar a garrafa de vinho vazia ao lado de minha cama, junta a uma taça que eu não havia conseguido esvaziar e se encontrava pela metade.
Imediatamente, peguei meu notebook e comecei a escrever sobre o ocorrido, apesar de não saber bem o que havia se passado. Obviamente, se tratava de um sonho, uma manifestação do meu inconsciente que queria me fazer enxergar coisas que eu não estava querendo ver e que, agora, eu me dispunha a interpretar (como se eu fosse Freud. Mal de psicólogo... Ou de boa parte deles).
Não sabia bem como começar, mas sabia sobre o que escreveria. Sobre mim, sobre as pessoas e sobre como costumamos creditar os acontecimentos de nossas vidas ao destino ou a alguma força superior (como uma verdadeira personificação da vida mesmo) e acabamos não nos responsabilizando pelas nossas escolhas.
Tudo o que eu pude ver com o que sonhei – ou sei lá o que – foi como as diferenças entre as pessoas tornam as relações interessantes, seja de modo positivo ou negativo. Mas, sobretudo, vi como as experiências negativas podem nos render bons frutos, ainda mais quando sabemos como plantá-los e colhe-los.
Por mais que a minha vida seja difícil, eu não me arrependo de nada. Porque o que eu podia fazer, eu fiz. Não foi por falta de tentativa que não consegui ou que deu errado. Eu simplesmente vivi. E vivo. Não acredito em verdades absolutas, mas também não vivo de mentira. Não me contento com pouco, não sei viver pela metade e a minha loucura não sabe fingir. E se tem algo que percebi é que muita gente nunca vai saber o que é isso. Não por não ter oportunidade, mas por não se permitir.
~ pausa para vomitar o vinho ~
Era como se eu estivesse mesmo precisando “vomitar” tudo isso. Palavras há tanto presas e que estavam guardadas em algum canto da minha mente. Coisas que me faziam retomar meu caminho e lembrar o que é responsabilidade minha e o que não é. Eu dou o meu melhor, não pelos outros, mas por mim. Eu sou o que eu posso ser e, enquanto eu puder tentar ser melhor, eu tentarei e serei, na medida do possível, do que está ao meu alcance. Se alguém não se contenta com o que sou, ou com o que tenho para oferecer, não é minha culpa. E talvez nem haja culpa de ninguém. O que sei é que não sou eu quem perde, pois, esteja eu onde eu estiver, estou por inteiro.
Não é a vida, não é o destino, não são os outros. Sou eu.
Talvez isso não faça sentido algum amanhã; talvez toda essa ‘filosofia’ seja uma merda e eu odeie esse texto e ignore essa experiência; talvez eu leve isso dentro de mim para sempre e de maneira consciente; talvez ninguém queira ler isso e talvez ninguém goste; talvez, também, alguém se identifique. Talvez... A vida e nós somos cheios de possibilidades. Basta abraçá-las.
Terminei de digitar, salvei o arquivo, desliguei o notebook. Olhei para a taça de vinho, ainda no chão e ainda intocada desde que acordei. Pensei: se existir uma personificação da vida, considere isso como uma oferenda. Sorri. Deitei. Dormi.

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Boatos de que isso aconteceu; boatos de que foi apenas um surto momentâneo da autora em decorrência do demasiado consumo de bebidas alcoólicas; boatos de que foi apenas inspiração a partir de experiências vividas, mas sem consumo de álcool. De toda forma, que história não tem um pouco de seu autor? O fato é que eu amo Piaf e que a história se conta não só por quem escreve, mas também por quem lê. Enjoy it ;)

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

O meu (Sen)tido



As portas de vidro.
As portas de vidro que não me fazem ver a diferença
entre o que está dentro e o que está fora.
As portas de vidro por onde tantas vezes passei.
As portas de vidro por onde tantos eu’s passaram.
E a cada vez que por lá eu passava, um novo eu se fazia
e outro por lá ficava.
Fiz-me em Dó Ré Mi Fá Sol Lá Si.

do que me eu limitava a ser quando cheguei
E que me fazia engatar a quando olhava para o meu futuro.
O que a Mi voltava era a insegurança
De um não ... “Não faça, você não consegue.”
Mas, como há de ser, o Sol voltou a nascer.
Mesmo se pondo tão , tão distante
Disse-me para voltar a Si.

E o meu ego se rendeu.
Como todo bom aprendiz, de mim se desvencilhou.
Foi-se a minha vaidade e o vazio cá ficou.
Deixei de apenas vivenciar.
Sou ser-aí, sou pre-sença
Lancei-me na experiência de todo gosto provar.

Dos amargos, aos suaves.
Dos doces aos salgados.
Do macio ao áspero.
Um pouco de tudo senti.
A cada sentimento uma nudez
E a cada nudez a transparência do “deixar-me ver”.

Meu olhar é o meu escudo.
Minha proteção é a minha confiança em mim.
Minha confiança advém do meu saber
Que não é mais apenas sobre as coisas lá fora.
Eu sei sobre mim.
Sobre cada pedaço de ser-aí-no-mundo-com-os-outros
Que se permitiu experienciar a vida.

A escalada é árdua e pedras rolam.
Não me permito o desvio,
cada uma delas tem o seu propósito.
Eu me firo, eu sangro, eu aprendo com a dor.
Mas a subida continua.
E a cada vez que eu pensar em desistir
Lembrar-me-ei das portas de vidro
E de que posso renascer quantas vezes quiser.

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Just ride

     Eu só estava querendo dizer que voltei. Mas para onde mesmo? Qual é o meu lugar? Entre tantos tropeços, continuo correndo. "Tira o pé, Priscilla. Tira o pé". É tudo o que ouço a minha razão dizer. E, dessa vez, parece que até meu coração diz o mesmo... Tão sôfrego e calejado, ele só queria um conforto que parece sempre tão impossível de achar. Mas estou tão alheia a tudo que nem os ouço... Razão e coração fazem as pazes na busca de me abrir os olhos.
     Qual é o problema então? Esse meu peito aberto; essa velha ilusão de ter encontrado o meu tão sonhado lugar. Não era para ser ruim, mas a consequência de correr com um peito aberto é o contato: toda a aspereza do mundo me toca, me desgraça e consome minhas entranhas... mas eu não posso parar. Estou indo rápido demais. E dói... Como dói. Mas eu consigo sentir tudo. Não só o áspero, mas o tenro, o quente, o que motiva. Então corro mais...
     Então penso em como será a cada vez que eu imaginar que cheguei aonde desejava. A adrenalina, tão pulsante em minhas veias, me engana. Parei de correr, mas a ferida está aberta e eu sangro. "Seu peito está aberto, lembra?" - dizem em uníssono razão e coração. E aí a adrenalina cessa. E eu sinto, como estou sentindo agora... Olho para mim mesma, meu sorriso se apaga e meu cenho se fecha. Uma lágrima percorre meu rosto vermelho, o qual mantém olhos incrédulos diante de tal imagem. É toda a emotividade que consigo expressar antes de decidir correr novamente.
      Logo eu volto à entrega, não me permito cicatrizar. Continuo exposta, olhando adiante, piso fundo. A adrenalina irá voltar, eu sei. É ela que me faz assim, tão paradoxal: cacos tão inteiros. 
      Já a minha razão e o meu coração, desses não tenho muito o que falar. Talvez um dia eles voltem a me pertencer, quando chegar alguém capaz de costurar esse buraco em meu peito e me devolver a adrenalina apenas com a intensidade de seus beijos. Aí, enfim, poderei dizer que encontrei meu lugar. "Eu voltei".



*Inspirado em sentimentos atuais e na diva das letras que carregam as minhas mágoas.



quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Fim do mundo: uma possibilidade

       Bem, pessoal, faz muito tempo meeeesmo que não venho por aqui e o que me motivou foi algo que não é de hoje que vem sendo discutido: o fim do mundo. Segundo o que a maioria dos pirados anda dizendo, o mundo irá acabar no dia 21 deste mês neste mesmo ano. A partir disto e de umas conversas que tive, resolvi pesquisar sobre o assunto e discutí-lo aqui.
       A história é a seguinte: para manter datas sobre períodos mais longos que 52 anos (tempo equivalente aos 18.980 dias que a antiga roda calendárica Maia poderia distinguir), foi criado o calendário da contagem longa. O que seria isso? Este calendário pode identificar uma data contando um número de dias a partir da criação Maia. Como o próprio nome já diz, é uma contagem longa, a qual é dividida em unidades de contagem. Resumidamente, 360 dias (k'in) correspondem a 18 Winals que equivalem a 1 Tun. 20 Tun's formam um k'atun que, por sua vez, 20 deles formam um b'ak'tun, ufa! Onde quero chegar com isso? Simples ou não: o dia 21 de dezembro de 2012 representa o fim, de fato, mas do 13º B'ak'tun. Esta última unidade não é a maior e, de acordo com o próprio calendário de contagem longa, não significa o fim do mundo, já que a contagem do B'ak'tun se encerra no 20º e dá início a uma unidade superior. 
       Uma interpretação errônea como esta está desencadeando vários transtornos ao redor do mundo. Em países como a Rússia, por exemplo, o governo foi obrigado a intervir para evitar tragédias. A própria NASA (Agência Especial Americana) também viu-se obrigada a dar seu parecer científico, após receber uma enxurrada de cartas perguntando a respeito do fim do mundo e a apresentarem até mesmo ameaças de suicídio. Os cientistas confirmaram que não há nenhuma hipótese de que exista qualquer outro planeta que possa vir a se chocar com a Terra, nem mesmo que possa acontecer uma tempestade solar no fim de 2012. Ainda sobre o assunto, a NASA esclarece que o calendário Maia funciona como o nosso, o que quer dizer que, se um ano termina no dia 31 de dezembro, não quer dizer que outro ano não possa começar e o ciclo se repita. Particularmente, eu concordo com isso, não só por ser uma afirmação da NASA, até porque quem me conhece sabe que não sou a maior fã da ciência. Enfim, o que este calendário quer dizer, de fato? De acordo com a diretora executiva da organização de pesquisa mesoamericana FAMSI, Sandra Noble, para os antigos Maias, o fim de um ciclo completo sempre representava um motivo de celebração, e que essa história de fim de mundo é pura invenção e apenas uma forma de muita gente ganhar dinheiro com a divulgação de tal catástrofe.
       Pois bem, meus amigos, mesmo com tudo o que disse acima, o objetivo da minha postagem não é de esclarecer que o mundo não irá acabar. Se vocês quisessem somente saber disso, procurariam no Google. Como diz o título do meu post, o fim do mundo é uma possibilidade. Aí você me pergunta: mas como, Priscilla, retardada, você não acabou de dizer que o calendário de contagem longa está determinando o fim de mais um B'ak'tun e o início de um novo ciclo? Sim, foi isso que eu disse. Essa possibilidade se deve à forma como estamos conduzindo nossas vidas neste planeta não mais tão azul. Só eu acho que todas essas teorias de Apocalipse, fim do mundo, estão ligadas a um mecanismo de fuga inconsciente da maioria de nós? Pois, vejamos bem, parece mais aceitável saber que o mundo acabará por conta de meteoros, colisões, explosões, dilúvios ou queimadas provocadas por castigo divino, do que creditar esta finitude às nossas atitudes. Certamente está chovendo demais em alguns lugares e de menos em outros; certamente estão acontecendo mais terremotos que o normal, mais maremotos que o normal, mais guerras que o normal. Mas será que isto se deve a castigos de um ser/força superior? Sei que sou suspeita pra falar, mas, como diz uma música do Muse:  
                                                          "Uma economia baseada em crescimento infinito é... INSUSTENTÁVEL".
       Por fim, depois deste texto bíblico, quero deixar claro meu objetivo: resgatar-nos para nossas responsabilidades. A natureza tem suas limitações; nós temos nossas limitações. O mundo está quente demais? Já ouviu falar numa coisinha chamada Camada de Ozônio? Creio que na 5ª série (ou antes) a maioria de nós estudou isso. Alguém ainda lembra o que acontece com ela quando os níveis de poluição aumentam? Creio que eu não precise lembrar. Se eu precisar, tome vergonha nessa cara e pesquise! Aí você pergunta: e como você explica o excesso de chuvas, Priscilla? Tome vergonha e pesquise de novo, porque você deveria saber. O fato é que todos temos consciência do quanto estamos acabando com o mundo, mas poucos se importam em tentar mover um músculo a favor da causa. Engraçado que são atitudes mínimas e não nos damos conta. O fim do mundo pode estar mais próximo do que nós imaginamos. Ele está na busca excessiva de capital, que conduz à exploração demasiada dos bens naturais, na poluição do meio ambiente, nas disputas por poder que se traduzem em guerras. De modo ainda mais claro, o fim do mundo está em suas mãos; nossas mãos. Celebre o fim deste 13º B'ak'tun e faça algo de útil no próximo. Vamos dar uma chance para as nossas próximas gerações e para este planeta que tanto nos aturou.

Abraços e até o dia 21/12/12, estarei sambando na cara de quem chorou por isso :DD 


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Nota rápida: se existisse Facebook nos outros séculos, todo fim de ciclo de um B'ak'tun seria um inferno! Parem de compartilhar porcarias e tentar suicídio, obrigada! 


Fontes: