As portas de vidro.
As portas de vidro que não me fazem ver a diferença
entre o que está dentro e o que está fora.
As portas de vidro por onde tantas vezes passei.
As portas de vidro por onde tantos eu’s passaram.
E a cada vez que por lá eu passava, um novo eu se
fazia
e outro por lá ficava.
Fiz-me em Dó Ré
Mi Fá Sol Lá Si.
Dó do que me eu limitava a ser
quando cheguei
E que me fazia engatar a Ré quando olhava para o meu futuro.
O que a Mi
voltava era a insegurança
De um não Fá...
“Não faça, você não consegue.”
Mas, como há de ser, o Sol voltou a nascer.
Mesmo se pondo tão Lá,
tão distante
Disse-me para voltar a Si.
E o meu ego se rendeu.
Como todo bom aprendiz, de mim se desvencilhou.
Foi-se a minha vaidade e o vazio cá ficou.
Deixei de apenas vivenciar.
Sou ser-aí,
sou pre-sença
Lancei-me na experiência de todo gosto provar.
Dos amargos, aos suaves.
Dos doces aos salgados.
Do macio ao áspero.
Um pouco de tudo senti.
A cada sentimento uma nudez
E a cada nudez a transparência do “deixar-me ver”.
Meu olhar é o meu escudo.
Minha proteção é a minha confiança em mim.
Minha confiança advém do meu saber
Que não é mais apenas sobre as coisas lá fora.
Eu sei sobre mim.
Sobre cada pedaço de ser-aí-no-mundo-com-os-outros
Que se permitiu experienciar a vida.
A escalada é árdua e pedras rolam.
Não me permito o desvio,
cada uma delas tem o seu propósito.
Eu me firo, eu sangro, eu aprendo com a dor.
Mas a subida continua.
E a cada vez que eu pensar em desistir
Lembrar-me-ei das portas de vidro
E de que posso renascer quantas vezes quiser.